Arte fora do museu

As manifestações artísticas quebram as paredes de museus, e as limitações do que seria arte e se instalam nas ruas. Levam música, dança, encenações e imagens para fora do museu. Sim, para mim as festas que têm sido realizadas na área externa do Museu Honestino Guimarães são expressões artísticas. É mais uma prova de que “só a antropofagia salva”.

Imagens refletidas no museu se encaixam perfeitamente no som produzido por aparelhos tecnológicos. Aparelhos, que por sua vez, resgatam músicas, antigas e novas, acrescidas de batidas, remix, e tantas outras parafernálias, que eu na minha ignorância musical desconheço.

Kate Bush ganhou contemporaneidade, a música dos anos 70, Whutering Heights, estava de cara nova com as alterações de Embolex. Para mim, essas inserções e modificações nada mais são que arte. A quebra de paradigmas, o novo ganhando espaço dentro e fora do museu e fortalecendo a cena cultural de Brasília.

Vale Cultura: O Brasil está preparado?

Retorno ao tema por achar de extrema importância para a democratização da cultura. No post anterior parabenizei a iniciativa, mas o assunto, para mim, não estava acabado. Em palestra com o professor Leandro Valiati, economista, mestre em urbanismo com ênfase em economia da cultura e doutorando em economia do desenvolvimento (UFRGS), tive a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas, e tenho mais certeza que implementar o vale cultura não é a solução para o setor cultural do Brasil.

Valiati é um dos coordenadores do curso de pós-graduação em Economia da Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, além disso, o professor desenvolve estudos de projetos sociais e culturais. Para ele o vale cultura é o primeiro passo para as mudança, mas “o Brasil não está preparado para um aumento quantitativo”. Aumentar a renda das pessoas não vai garantir que elas consumam produtos culturais diversificados. Por exemplo, se alguém tem interesse por algum tipo de música com o vale ela vai a mais shows do mesmo gênero, explica o professor. Então para a iniciativa ser realmente efetiva é preciso um marco regulatório forte. Uma forma que especifique onde os vales poderão ser usados.

Penso como o governo conseguirá criar um sistema que realmente movimente o setor cultural. Algo para fortalecer o acesso a espaços culturais, que dê ferramentas para a sustentabilidade dos artistas independentes e incentive o público a consumir produtos diversificados. Afinal, esse dinheiro a mais para a população tem o intuito de fortalecer o consumo, para que os agentes culturais tenham demanda e recebam por ela. É uma “cadeia” como define Valiati.

Acredito que o vale cultura é uma das ferramentas para os agentes culturais tornarem-se “independentes” dos subsídios governamentais. Independente entre aspas mesmo, porque ainda vão depender de políticas públicas para a implementação do vale e do repasse de verbas para a população. Mas, caso não haja um marco regulatório, a ação vai acabar com muitos projetos sócio-culturais. Se eu tenho dinheiro para ir ao Teatro Nacional, por qual razão vou querer pagar para assistir a um espetáculo em um espaço cultural pequeno?

Artigo: Cultura e respeito

Tanto se fala em incentivo à cultura, mas falta mesmo é respeito a quem produz cultura, o artista.

No sábado,15 de Agosto, estive em um festival de música organizado na Santa Maria, Multverso. Dias antes, em uma conversa, com a produção do evento, fui informada da programação, por sinal, muito atrativa.

Mas tive uma grande surpresa quando cheguei ao local. O evento estava programado para começar às 10 da manhã e começou às 6 da tarde. Muitos integrantes de banda chegaram no horário marcado, esperaram por oito horas e simplesmente não tocaram. Das vinte bandas inscritas apenas seis se apresentaram.

Na hora de subirem ao palco, mais desorganização. Ninguém sabia ao certo a ordem das bandas. Grupos preparavam-se para tocar, e de repente outras pessoas iniciavam a apresentação. Houve até quem fosse chamado pela produção de “sabotador” por ter subido ao palco fora de ordem.

Que ordem? Na minha concepção a ordem tem que vir da produção. É preciso cumprir com o horário, e respeitar os músicos que saíram de suas cidades para tocar nesse evento. Por trás do palco, muitas bandas discutiram pra saber quem iria tocar primeiro, talvez por que faltou aos responsáveis atitude e disciplina para determinarem corretamente os horários e cumprirem com eles. São bandas que estão iniciando e delas não se espera o profissionalismo desejado, espera-se que a produção seja profissional o suficiente para respeitar cada um desses artistas.

Na abertura falaram que é preciso igualdade social para todos, não foi o que esse evento transmitiu. Talvez tenha sido o reflexo de um Brasil desorganizado, cheio de promessas e que não respeita o cidadão. É preciso que as pessoas não limitem sua visão e cobrem aquilo que está errado.

Se Marx fosse músico ele diria, “Músicos do mundo inteiro, uni vós”.